Portal da Abrasce conversou com o
experiente arquiteto de varejo Mauricio Queiroz e traz aqui sua visão sobre o
tema
Por Ticiana Werneck, da Abrasce
O arquiteto Mauricio Queiroz atua há
mais de vinte anos nas áreas de design de consumo, arquitetura e gerenciamento
de projetos comerciais. É responsável por diversos projetos no varejo
brasileiro como as lojas da Pandora, Le Creuset, Ômega, Intimissimi e Mont
Blanc, entre outras. Ele também é diretor do RDI (Retail Design Institute
Brasil) e membro do conselho da ABD.
Há um mês retornou de Nova York, onde
participou não só do Big Show da NRF (National Retail Federation), considerado
o maior evento de varejo do mundo, como visitou diversas lojas inovadoras da cidade.
Aqui, ele conta o que chamou sua atenção no evento e como analisa a disposição
em inovar do varejo brasileiro:
Portal Abrasce - Nesta última edição
do NRF, qual tema mais te chamou atenção?
Mauricio Queiroz -Alguns
temas foram mais relevantes e comentados durante a NRF. Entre eles, posso
citar:
Personalização – diferentemente da customização (parte de um produto pronto), a personalização permite que o consumidor crie do zero o seu produto via impressoras 3D, encomendas online. Visitei lojas preparadas para produzir o item personalizado ao vivo, na frente do cliente. A Normal, por exemplo, vende headphones que se adaptam perfeitamente à orelha do cliente. Na loja, o vendedor tira o molde e fabrica, na hora, o headphone.
Big Data Aplicada – Há vários anos, vemos uma sede no varejo em
coletar informações e dados, porém com raros casos de aplicações efetivas. Isso,
hoje começa a mudar. Várias corporações tomam decisões em áreas pautadas não em
pesquisas, achismos e opiniões, e sim em algoritmos. Um caminho mais assertivo
e sem volta.
Da mesma forma que um usuário
assíduo não contesta as sugestões do aplicativo e seus algoritmos. Muito em
breve, o varejo dará preferência à informação em detrimento da intuição.
Eliminar Atrito e Elevar Experiência – o que parece é que o mundo digital, e sua
possibilidade de ter quase tudo a poucos toques em seus smartphone, mudou a
percepção quanto ao que era aceitável em termos de experiência. Hoje, tudo que
não é rápido, fácil, autoexplicativo e fluido é subentendido como atrito.
O objetivo do varejista é
reduzir a zero toda forma de atrito e criar sucessivas experiências e
facilidades que transformem a rápida jornada do consumidor em prazerosa.
No que se refere à
arquitetura de varejo, em minha percepção, uma loja não precisa mais ser apenas
bonita, funcional, prática, vendedora, replicável e estar dentro do budget.
Hoje temos a incumbência de criar um espaço que possa abrigar necessidades mais
complexas, como, por exemplo, os pontos citados acima.
Portal
Abrasce - E pela cidade de Nova York, quais lojas te chamaram atenção? Em que
medida elas estão em linha com o que você procura em seus projetos?
Mauricio Queiroz -Entre
as lojas que mais me chamaram atenção estão duas do Soho:
A Sonos foi uma grande
surpresa. Conseguiu com um mix de apenas quatro modelos de caixas de som criar
uma loja fantástica com vários ambientes que exploram não a característica
técnica do produto, mas sim a missão de levar o consumidor a locais que remetem
a espaços da sua casa, dando a visão de como funcionam - tudo com imenso home
appeal.
A outra loja é a Converse,
que claramente dividiu a loja em dois espaços. Um andar com a coleção completa
e linhas assinadas. E outro andar que abriga uma fábrica, onde os consumidores
escolhem desde a borracha aos cordões do tênis. Tudo feito 100% pelo cliente.
Um exemplo de personalização!
Portal Abrasce -
Atualmente, qual a sua maior preocupação e linha de trabalho ao projetar
espaços para varejo?
Mauricio Queiroz -Basicamente,
primeiro entendo a marca, seu posicionamento atual, sua história, seu DNA e
como quero que ela se mostre no futuro. Essa é a base para tudo que irei colocar
no projeto. Outro ponto que trabalho é a reinvenção. Percebo que que estamos em
versão beta o tempo todo, o que era a fórmula correta já não faz mais sentido.
Sinto que os varejistas já
perceberam isso e nos delegam mapear a renovação da exposição, experiência, mix
e percepção do consumidor. E claro, depois materializo no ponto físico.
Portal Abrasce - Falando em
loja de shopping, em que medida o projeto de uma loja de shopping é diferente
de uma de rua?
Mauricio Queiroz -Analisamos
dois pontos: qual perfil de público e a que se propõe a loja (compra por
impulso ou programada), que trabalho não com foco NO consumidor, mas com foco
DO consumidor.
Muitas vezes, uma grande loja
de rua é um ponto de destino para a classe B. E em outro momento, essa marca se
instala no shopping em formato menor, para a compra por impulso para o público
A. Mapeio isso antes de concluir o projeto.
Portal Abrasce - Em
arquitetura de shopping o que há de novo? Em que medida o Brasil está
acompanhando as tendências?
Mauricio Queiroz -Acima,
comentei a visão de versão beta e reinvenção, e acho que as duas deveriam fazer
parte do vocabulário dos operadores de shoppings. O modelo atual de shoppings
próximos com mesmo propósito, mesmos temas, mesmas lojas e serviços, poderiam
ter uma visão mais relevante.
Vejo que a Westfield, grupo australiano, tem feito um trabalho interessante com seus shoppings. Vi ações como espaços centrais enormes para lojas pop up, corners, ações de mídia e promoções, e shows que conferem constantemente um quê a mais de novidade e gera alto fluxo para as operações no mall, além de uma receita incrementada para locação.
Westfield WTC, em Nova York
Em uma conversa com o
superintendente da operação do Westfield em NY, percebi que eles não se sentem
locadores e sim sócios. Trabalham com aplicativo próprio com todas as lojas do
shopping, coletam produtos na loja e entregam para os clientes. Um belo modelo
de reinvenção do formato trabalhado nos shoppings.