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da Abrasce conversou com o consultor Paulo Ancona sobre esta forma de operar na
qual visa-se o uso conjunto, a economia e a redução de custos
Por Ticiana Werneck, da Abrasce
Para o consultor Paulo Ancona, sócio-diretor da Vecchi
Ancona, 2016 foi um ano atípico e revelou um exaurimento do atual modelo
econômico mundial. “Para algumas coisas não há mais volta. Esse é o caso das
mudanças e da velocidade com que acontecem”, comenta.
A cultura das empresas tradicionais e seus modelos já
foram destruídos e poucos se deram conta disso, diz ele. “Foram triturados
pelos aplicativos, pela Internet, pela compra online, pelo Big Data”, opina. O
mundo se vê tomado por exigências de ações de governança para tentar colocar um
pouco mais de ética na vida de empresas e instituições e de sustentabilidade,
da qual faz parte a nova realidade chamada “economia compartilhada”.
Não se trata de tomar algo emprestado de forma gratuita e
nem de fornecer algo de graça, mas sim de se consumir algo em conjunto com
outras pessoas ou empresas, sejam produtos ou serviços, ou simplesmente
“vivências ou experiências” novas de consumo, de lazer ou de facilidades. Esqueça
o fato de que sempre haverá um “dono” ou a “posse” de algo. Pelo contrário! A
economia compartilhada visa o coletivo, a divisão, o uso conjunto, a economia e
a redução de custos e despesas.
Isso é bom? Para quem se vale desse conceito, sim! Mas
para as empresas que deixarão de vender e de serem proprietárias de “coisas e
situações”, não, pelo menos até que passem a participar dessa nova realidade. “Muitas
não sobreviverão”, comenta Ancona, “pois lhes faltará o conceito, a cultura, o
modelo ou ainda por terem seus produtos e serviços atropelados pelo novo”.
O poder da economia colaborativa em fomentar negócios
baseados no compartilhamento é enorme. O modelo é vantajoso tanto para quem
oferece quanto para quem contrata um serviço, já que intermediários e os custos
de uma estrutura formal de comércio foram eliminados.
As novidades que vem surgindo na logística irão reduzir
os custos das empresas compartilhadoras, fazendo-as mais competitivas. A
plataforma Airbnb — de oferta de cômodos vagos e imóveis para locação por
temporada — tem hoje um valor de mercado superior ao de grandes grupos
hoteleiros, como o Hyatt. Os empreendimentos colaborativos movimentaram mais de
110 bilhões de dólares em todo o mundo por ano, segundo a revista Forbes.
Outro exemplo são os espaços de coworking. Em breve,
teremos compartilhamento de equipes de trabalho ou estruturas, o uso comum de
suportes e serviços para logística, serviços de telefonia, serviços bancários,
o uso de veículos nas cidades, de reuso de equipamentos e assim por diante.
A legislação não prevê em suas regulamentações essas
situações que irão bater de frente com tributos. Um bom exemplo é o que vemos
acontecer no mundo inteiro com o Uber, a nova realidade dos táxis, ou seriam
serviços de carona? Ou motoristas particulares? O mundo dos negócios está
suportado por paradigmas que estão sendo literalmente destruídos. Acompanhe a
entrevista:
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da Abrasce - A regra básica da economia compartilhada é a de dividir em vez de
acumular. Ele é viável em qualquer setor?
Paulo
Ancona - É uma forma de atuação onde todos tendem a ganhar juntos
e aí fica mais claro o conceito de compartilhar. É preciso mudar o paradigma atual
capitalista onde a riqueza se concentra, para outro, onde ela é distribuída
entre os que geram a riqueza.
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da Abrasce - A economia de recurso é um dos maiores benefícios. Há outros
benefícios?
Paulo
Ancona - No momento em que eu, por exemplo, atuo num espaço
compartilhado com outros profissionais e empresas, o custo fixo será bem menor.
Além disso, podem-se trocar serviços entre essas empresas, aproveitar o que
cada um tem de expertise, como numa comunidade ou cooperativa. Produtos podem
ser reaproveitados, como, por exemplo, um sistema e equipamentos de TI que não
atende mais a alguém, pode servir para outro. Está embutido nesse conceito o reuso,
reciclagem, trocas e lógico, compartilhamento.
Portal
da Abrasce - Uber e Airbnb revolucionaram o setor de transporte e hotelaria,
respectivamente, sem possuirem nenhum carro ou quarto de hotel. Quais outros
setores também passarão por transformações similares?
Paulo
Ancona - Qualquer setor pode ser totalmente modificado a partir de
um simples aplicativo de celular. Nesse caso, o uso de um aplicativo,
desenvolvido por alguém que não é atuante no setor, mas que consegue ter uma
visão inovadora, pode alterar todo o equilíbrio entre concorrentes.
Dentro do setor de alimentação, por exemplo, há
aplicativos que atendem delivery de muitas formas, envolvendo empresas diversas
que compartilham o roteiro de entregas. Há maior colaboração também, e estas
empresas podem fazer compras mais vantajosas em conjunto.
Portal
da Abrasce - Você afirma que muitas empresas "não sobreviverão” pois lhes
faltará a cultura ou por terem seus produtos e serviços atropelados pelo novo.
Isso faz parte do ciclo de desenvolvimento das empresas e da economia. Qual o
remédio?
Paulo
Ancona - As empresas que continuarem fechadas ao uso de
aplicativos, de comunicação online ou mesmo afastadas do conceito de
compartilhamento ou colaboração, atuando no velho conceito de estruturas
rígidas e processos burocratizados, com uma cultura fechada para o novo e a
inovação, não terão espaço em pouco tempo.